sábado, 13 de outubro de 2012

23º 34' 19" S 46º 42' 3" W

Querida C,


tenho dormido mais que o necessário, pelo puro prazer de ignorar as atribuições durante o feriado e porque a chuva lá fora não me diz respeito durante esses dias. Não tente me convencer do contrário, inclusive, porque não é disso que se trata essa carta.

Sonhei três vezes seguidas o mesmo sonho que aparece em fragmentos e têm configurado uma história completa; começa com o reflexo de uma carta ignorada que me recuso a responder e vou me deitar. Em poucos momentos me preocupa o fato e busco através de um navegador, que desconheço qual seja, as pessoas para poder falar com elas ao vivo. Digito seus nomes e as adiciono já com a mensagem que finalmente resolvo responder da carta: agendo dia, local e hora para nos vermos.
Obviamente acho as pessoas erradas e marco um encontro com completos desconhecidos. Em um barco voador que está parado no mesmo lugar, perto de um trailer. As personagens não poderiam ser mais estranhas. Ah, um detalhe, acerto quem são as mulheres, e erro quem são os homens, havia me esquecido disso, as duas mulheres são as certas, e me causam igual infelicidade ao vê-las, os homens são outros.
Fica vago, mas acredito que outras pessoas foram nesse encontro que marcamos, mas ainda não perceberam que tudo está errado. Os homens, que não deveriam estar alí, que foram convidados errados, sabem que há um equívoco.Eu também sei, mas permanecem e por algum motivo que desconheço gosto do fato de que ficam.
Um deles magro, com certo aspecto sujo parece que me encanta e agrada ligeiramente. Me conta algumas histórias enquanto postergo a abertura do encontro. E isso já dura dois dias, ficamos eu e ele em uma espécia de algum fluxo maluco que ele me conta muitas coisas, eu confio e acredito nele, escuto suas histórias, vejo suas tatuagens e é como se não houvesse problema algum de nada ter começado ainda. As outras pessoas perdem-se em pequenas atribuições, tal qual descobrir o exato lugar que estamos, a programação, ou sequer perceberam também que há um grande problema e que nada acontecerá.

Depois de um tempo começo a me questionar sobre a indolidade (essa palavra existe, C.?) do homem que conversa comigo todos os dias e já começo a refletir se nutro certo amor pelo mesmo. Começo a questionar porque ainda está ali, porque não foi embora ao perceber que eu havia me equivocado nos convites, o que ele ganha postergando que eu crie coragens, saía daquele barco e resolva o mal entendido todo.

Desperto de leve e decido escrever para alguém sobre esse sonho. Espero uma resposta rápida e não quero continuar com isso, já pensou o horror de um desfecho?