quinta-feira, 20 de setembro de 2012

mas acredita em inferno astral;

A inquietude brinca de circo dentro de mim:
entre as rodas rápidas do ônibus,
a moça desconhecida ao lado que dorme,
o campo do lado de fora, seco pela estiagem.
Estou impossibilitada de qualquer situação que demande esforços reais.Me perco inclusive nas linhas do livro e desisto com o pescoço dolorido de prosseguir a leitura.
Mesmo sabendo que
9,9% das escolas não possuem acesso a água encanada,
13,6% não possuem acesso a saneamento básico,
819 mil alunos estudam sem luz elétrica,
52,3 % tem aulas com professores que possuem apenas 8 anos de escolaridade,
me incomodo com o calor sufocante e esmagador pré-chuva, e abandono os livros, esperando a hora da dispensa, na qual a professora, como um antigo tutor juntará suas mãos em um belo sinal que indica que a turma está dispensada.
Tenho remoído sua frase.
Não tenho nada para falar.
E não é querida que seguimos falando por tantos anos sendo que o que os consome é a certeza de que não há mais nada a ser dito?
Escutei de duas maneiras diferentes no mesmo dia;
primeiro você me contava de sua terapia e a monografia, das dicas de como ninar uma criança e digitar uma tese simultaneamente.
Depois mais a frente me falaram que sempre há algo novo, que sempre temos boas idéias, e que a mente é genial.
Chego em casa transtornada.
Te conto do episódio que se repete duas vezes de maneira distinta e me pergunta com um meio sorriso o autor da frase, te conto, solta gargalhadinhas tremulas e não me diz nada.
Meus olhos cansados também já não dizem nada, ainda que me falte a seriedade.
Me lembro da professora de inglês me dizendo que se você escrevesse poderia ordenar a sua desordem, enquanto me mostrava sua lição da aula cumprida. Concordei.
Mas, querida, que bom que você não escreveu, nem doces, nem azedas.
Os desentendimentos mentais com F. tem crescido a medida que o calor prossegue e a seca não dá trégua, ainda que os jornais anunciassem uma frente fria vinda de jatinho, a todo vapor, e nos invadindo.
Semana que vem apago velas, fecho os olhos, faço pedido;
as mulheres são as últimas a abandonar navios.