quarta-feira, 5 de setembro de 2012

45º 33' 45" Oeste

I

Sonhei com um livro de poemas que não existe.

Estávamos em uma sala que na verdade era um amontoado de carteiras escolares em um corredor de um prédio habitado, onde adolescentes, usando mochilas infantis e cadernos coloridos, se amontoavam para escutar os poemas do livro serem declamados por um joão-ninguém que se postava ao lado da professora doutora mestre conhecidíssima naquele lugar desconhecido. Não me lembro ao certo mas o leitor desconhecido parecia ser o escritor dos mesmos poemas, mas não tenho certeza. A leitura  surpreendia porque as palavras dos poemas não eram as mesmas que estavam sendo recitadas; de versos longos e trabalhados escritos no papel se ouvia duas sílabas apenas "du-da"/"do-da" sendo repetido incessantemente.

Mesmo mudando de lugar várias vezes se aproximando cada vez mais da mesa da professora onde ela e o leitor estavam encostados ouvia apenas o mesmo "du-da"/"do-da". O que mais me surpreendia era o fato de que ninguém interrompia a leitura e seguiam atentos cada "duda-da"/"do-da" lido, fazendo inclusive alguns breves anotações sobre isso.

II

Despertei afobada tentando lembrar os versos. Novamente as cobertas reviradas e o lençol que protegia o colchão retirado. Não me lembrava mais dos versos que eu mesma havia lido naquelas páginas, apenas da capa do livro; vermelha com alguma coisa escrita.

Me lembrei dos sonhos da época em que que eu escrevia , onde era frequente sonhar com obras prontas e acabadas, mas que as tentativas de reconstituição sempre fracassavam.