sábado, 1 de setembro de 2012

bicho papão.


Mas a face do espelho mostrou-se apenas silêncio e sombras, e atrás das sombras e através delas, uma espada nas mãos de seu filho.


Me abraça forte querida, porque nessa hora do dia a visão vai ficando turva, vai virando uma bacia d'água e eu já não sei mais o que to vendo e me vem uma vontade muito grande, de que nem sei, acho que de fazer muitas perguntas, e de saber de tudo, mas logo logo a hora vida e eu me conformo, calada aqui esperando, o que? não sei, não sei. E o que saí de baixo da cama não é mais o medo de que possa comer nossos pés ou coloque suas mãos sujas, esses medos de criança não importam mais, mas me vem o medo tão grande de me ver nesse bicho e ser esse bicho, então me abraça forte.

Você me olha e diz que posso parar mas eu não sei, sabe? e eu não quero parar. Lembra aquela personagem daquele livro que lemos quando a gente era criança praticamente? Não, não esse, aquele outro é esse mesmo, e ela ia embora chorando porque se sentia traída, na época o que que a gente achou dela? Ah era isso, que a tinham traído mesmo, mas lembro que você advogava pela tutora dela o tempo todo, alegando que não tinha culpa alguma, que ela era apenas mais uma dessa coisa toda maluca chamada mundo e que ela individuo não importava, e eu me agarra chorando chorando achando que podia ter sido diferente, mas por deus, pobrezinha perdida perdida no mundo, mas hoje em dia eu acho que ela era covarde, covarde. E me dá uma vontade de chorar porque eu não quero ser covarde, entende?

Sabe esse sol que protege a gente nas bordas dessa cama onde nada vai acontecer nem nos atrapalhar, e quando ele vai embora? Não, eu estou perfeitamente bem e controlada, não se preocupe, mas é só que apenas me lembrei da briga das duas personagens e da dor forte que eu senti nisso tudo como se fosse eu e hoje em dia eu olho e penso: será que seria eu? Será que um dia também vou me cansar, me sentirei exausta e? E aí, o que vai ser de mim e de todos os projetos? E o que é de mim enquanto mal sei a minha vida, e mal sei de tudo? E essa angustia formando um bolo como aquele que os gatos regurgitam no meu pescoço, a gente faz o que?

Me abraça forte, querida, é só isso, é só essa dor, é só esse mundo todo aqui dentro desse quarto, abre a porta, abre, querida, deixa isso tudo ir embora.