quinta-feira, 14 de junho de 2012

o pressentimento da teia escura se armando sobre as nossas cabeças...


Quanto vazio cabe em um corpo te pergunto e você me olha como se não entendesse nada do que eu tivesse falando, como se precisasse avaliar meu estado, como se eu pudesse estar descompensada, ainda que eu e você e ele estivéssemos tão vazios agora. Eram apenas três corpos espalhados em algum lugar com alguma ligação que se desmontava e que não é nem que tentássemos insistentemente preservar os elos, as ligas de um braço e seu pulso e seu ombro, era antes de tudo a completa impossibilidade de findar sem dor que nos dilacerava, ou não, meu bem, também não sei, posso estar equivocada, te disse e você me olhou com aquela mesma cara de que eu te olhava, de não temos nada a fazer, e do desejo grande de ser pequeno o bastante para se esconder nas cobertas de nossos pais e nunca mais voltar até que o sol nascesse depois daquele pesadelo que nos engole enquanto estamos dispersos nesse mundo e tudo já estaria resolvido, resolvidíssimo. Digo algum verso perdido na minha memória de leitora que você desconhece e não faz questão de escutar desvia a atenção olhando pela janela do carro e te digo que não me dá mais essa dor na garganta da incerteza e do não saber, e a dor de cabeça que me acompanha que me faz pender a cabeça para os seus ombros mesmo sem saber se devo, sem saber do que podemos de fato fazer tão presos nesse cercado, que fizemos, que fiz que fez? Não, não importa mais te digo, mesmo sabendo que eu queria uma resposta que você queria uma resposta

Tentei, tentou tentamos? Pergunta afinal dirigindo as poças de água com suas duas mãos coladas no volante em meio a uma parada de semáforo, e antes que possa responder, avança no verde.