quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Cicada Orni

Como uma cigarra, agarrada ao tronco de uma árvore gritando desesperada, com meus 120 decibéis entalados vendo o antigo esqueleto, armadilha e proteção me sufocar, grito, com dor pela perda, pelo não conseguir mais levar, por não caber mais no antigo conforto e ir quebrando-o aos poucos.
Desesperada e impedida de respirar me liberto de toda quitina, grito alto sem me importar se você possuí seus protetores auditivos, tal qual um macho de cigarra.E não me escuta. É incapaz de me escutar.

Grito; 120 decibéis para abandonar, 120 decibéis para ajudar a continuar a viver. Mesmo que essa vida de cigarra, condenada a morrer de fome no inverno, condenada a viver em baixo da terra até poder sair, me perguntando todos os dias; já estava na hora de ter saído?

Livre do peso da antiga proteção, respiro dificilmente a liberdade, consciente de estar mais do que nunca vulnerável, agora que me agarrei sozinha a esse tronco e me livrei dessa capa; isca fácil.
Seguro com força o tronco da árvore: grito para me salvar, pois não suporto a idéia de ser salva. Grito e o grito é a música que ecoa em mim.