Então ninguém mais voltaria, te disse. E você confirmou; não volta.
Tenho certeza que meus olhos estavam muito vermelhos e marejados, possivelmente amarelos como sempre ficam quando bebo demais e choro demais e vivo demais. Algo com o calor da bebida fazia borbulhar em mim uma raiva de você me dar uma realidade, assim, sem nem embrulhar, sem nada. E por não entender que poetas não vivem de realidade, você, tente entender, ia me castigando com suas verdades claras e objetivas. Talvez por isso tenha dado o último gole e esvaziado o copo e ter te matado ali, naquele momento, quando disse que ninguém nunca esteve ali.
Era eu quem havia criado tudo, inclusive a necessidade de que se existissem outros, para mim, e de que você acreditasse neles. Eu quem tinha posto a mesa, o choro em meus olhos e meu desejo de ser cuidada. Então, agora de pé atrás de suas costas, dei um passo e deixei seu corpo cair, seu corpo alvo, seu cheiro de natureza. Nada de socorro. Nada de nada. Me tirava o sonho alegando ter tirado seu sono, e eu tirava nossos corpos e copos.
Ninguém voltaria a lugar algum. Porque o amor não deixa sobreviventes.