sábado, 8 de janeiro de 2011

Ao som de Janis Joplin

You're gonna spread your wings,
Child, and take, take to the sky.

Eu sei, tão bem quanto você, que essa situação toda é patética, quer dizer, você pode achá-la patética me prendendo assim no meio das suas pernas e me segurando forte pelos ombros, mas eu te digo com mais sinceridade que nunca tive, que nunca ousei usar com você e com seus olhos azuis claros que me assustam; preciso de liberdade, ou sufocarei. No sentido literal.Um dia não terei forças para inspirar, e se a tiver não haverá forças para levar o ar até meus pulmões, e se ela existir em alguma hipótese meus pulmões não vão querer fazer nada, e será desperdício. Terá sido desperdício roubar um pouco do ar, ter acreditado que existiria uma rufada uma vez mais dentro de mim, com aquela sensação que o ar fica antes da chuva. Então vou morrer, e não estarei livre, estarei vingada. É se matar é a melhor vingança que podemos fazer contra o mundo, e seria bom se vingar. Mas não é esse o assunto de hoje, e não precisa mudar o olhar, porque estou falando de dar cabo na vida.
Não, não, não, não me digas também que liberdade não existe tentando me acalmar, nem ponha seus lábios tão perto dos meus, não agora. Sim, sei muito bem que mal podemos sair às ruas como nos mesmos, de mãos dadas, de cinturas juntas. Sei bem, não me lembre. Sei também como pode estar pensando que estou presa em uma realidade que não escolhi, que não escolhemos, em um sistema todo definido. Que existe pobreza na esquina ao lado, e dentro desse quarto, e nessa cama.
Mas, deixa eu te dizer também, que eu sei que se pode abrir essa janela e ter algo para além dentro do quarto do que nossas tristezas e teorias remoídas, e essas frestinhas de sol. Me deixa te dizer que eu conheço o ar mais fresco e mais livro no meio da poluição matinal, onde meus pulmões não tem preguiça de funcionar, que eu sei da liberdade do gosto do tabaco, dos meus olhos castanhos e ressentidos. E dentre tudo que perdi só por nascer, só nascendo, e desse nada que tenho, é por isso que te digo: preciso da liberdade. Da pouco liberdade que querem me dar, mas é algo como vida ou morte. Talvez seja só essa vodka, sabe bem que não posso bebê-la, mas eu quero liberdade, mesmo você podendo me achar uma menina patética no meio das suas pernas brancas.