Repique tocou
O surdo escutou
E o meu corasamborim
(Samborim)
Cuíca gemeu
Será que era eu
Quando ela passou por mim
Estava sentada em uma dessas cadeiras brancas de bares ordinários quando ela chegou na roda dançando tão linda com seu vestido estampado de chita verelha, e com seu par de olhos tão comuns que hipnotizava a cada vez que suas pernas desenhavam no ar, ainda que nos mais simples gestos se demorasse mais um pouco.
Olhava-a com o canto dos olhos, olhava seu sorriso doce no rosto que parecia nunca ter se preocupado, nem machucado. Sentada tão diferente; jeans e camiseta, com olheiras gigantes, doente dos pés, incapaz de acompanhar o batuque de um pandeiro, se apaixonava pela moça de saia rodada.
Chegou mais perto. Se ainda soubesse dançar seria um bom pretexto, se bem que dentre todas as presentes, dentre todos, se ainda tivesse alguma chance seria tão mínima; ela de bronzeado paulistano, que acostumou-se ao escritório e ar condicionado. Talvez fosse a mulher da sua vida, talvez, por que não?
E antes de se decidir entre mulher da vida e o bronzeado paulistano o samba parava de tocar, o pandeiro era guardado, a cuica emudecia-se. O sol ia se pondo na ponta das areias avermelhadas, algo explodia ali perto.
Acabado-se a época de romantismos, de encanto e encantar-se.
Sumia no meio da roda de samba a mulher da sua vida, que saia de braços dados com um sambista.