quinta-feira, 17 de junho de 2010

Seus olhos doíam pesados, consumidos pelo sono. E o frio fazia com que cerrasse os dentes, e puxasse a gola do casaco para mais perto do pescoço, engolindo o frio que batia de encontro a sua cara. Mastigava uma memória esquecida pelo tempo e pensava Deus, às vezes, parece esquecer. E se lembrava dos dias com aquela luz laranja entrando pelo cômodo, dos dias em que segurou aquele corpo mais perto do seu, dos dias em que se sonhou tanto, mas tanto. Morar com todos os amigos em uma casa, que seria também, um centro cultural; saral, músicas, danças, festas boêmias. E agora abria a porta do seu apartamento onde morava sozinha, contente de ter saído do frio da rua. Olhava a lua no recorte da janela, será que mais alguém se lembraria daquela lua perdida em um escritório de São Paulo, perdida naquele bairro com casa de boneca, que decorou aquela noite linda? Tentando aceitar que era apenas nostalgia tudo isso e que logo passaria, passaria, porque todas as coisas na vida por mais lindas que sejam passam; ela, afinal, não havia passado também? E era não ter a certeza dessa resposta que a matava, vai que ainda lembrassem dela também? Vai que fosse uma coisa apenas do tempo?
E engolindo seu café quente, e pensando que as coisas passavam e que logo seria verão e todas as coisas dariam certo novamente, sem querer concordar que sua vida parecia um conto do Caio Fernando, olhava mais uma vez para a lua e pensava; quem lembra?