sábado, 8 de maio de 2010
Você quer saber o que eu tenho então?Disse soluçando estirada no sofá afastando a mão de sua cintura, e se levantando na poltrona, dos seus olhos vermelhos queimados de lágrimas a um novo olhar penetrante decidido. Pois então, o que eu tenho?Eu tenho uma dor no peito que não passa, uma solidão comendo meus cantos entre as linhas do que fui e do que sou, um peso nas costas de um Mundo que não é meu, uma vontade louca de jogar tudo para os ares, de atear fogo na lona colorida do circo, que na verdade já está desbotada, tenho uma raiva da vida e no misto entre saber que auto-piedade nunca levou ninguém a lugar nenhum. Tenho uma memória para me assombrar, que me fica fazendo lembrar daquela lua em uma janela tão pequena de um quarto naquela casa cheia de pessoas que eu detestava e entre dois sofás e um chão em baixo da grande mesa cheia de nossos papéis havia todo meu amor, havia minha vida; e as testemunhas! Deus, as testemunhas! Estão longe agora, nem se lembram mais desse luar, nem se podem lembrar, ignoram que lembro também e choro agarrada no meu coração que tem um adesivo gigante colado 'PLEASE HANDLE WITH CARE-FRAGILE', mas ninguém se importa. Estão todos cansados das minhas tristezas de madrugadas, quando as coisas ficam difíceis demais para que eu a suporte. Um amor na prateleira que eu queria na minha cama, toda para mim, todos os dias. É isso que eu tenho. Satisfeita em saber? Não, pelo amor de Deus, sem esse clichê de 'dor existêncial de todos os artistas blá-blá-blá'; não. Sem poesia hoje. Porque hoje eu só queria que alguém entrasse por essa porta com um plano perfeito, a solução exata propondo nossa auto-destruição, não há consolo algum. É muita pretensão, ao mesmo tempo a fuga; quem lembraria, quem sentiria falta? Porque, veja bem, só há fuga se há uma caça, se há de quem se fugir e para que se fugir. E do que eu fujo? De mim mesma.