domingo, 9 de maio de 2010
Estava pesando que sinto muita vontade de enforcá-las na minha fita da máquina de escrever que agora corre, e por vezes trava, e tenho de enrolá-la manualmente quando o caracter começa a sair apagado. Purgar a existência das mesmas através de sua própria fonte de vida, porque, por mais que Maria, Carmem e Ana realmente existam e agora sigam suas vidas enlaçadas à outros romances, me deixando com as páginas em branco por minha conta e risco, sem ajuda no preenchimento das mesmas, aqui nesse cômodo o aroma que exalam, as cores que vestem, os modismos que falam, derivam desse disritmado barulho a correr nas madrugadas com cafés e cigarros, quando as folhas começam a lotar chão, parede e mesa, quando no meio de um quadro cubista e falas de uma mesclam-se com os movimentos dos olhos da outra e nunca sei mais quem tinha os penetrantes olhos e quem os pés muito me agradavam. Por isso, em vezes como essa que o papel não se move, que nada surge, que há um peso muito grande e um descompasso no perecível para sempre que empregei tanto, das bebidas adoçadas com colheradas e colheradas de ilusão, onde surdos e cegos nos entregamos, mas não estamos surdos porque não escutamos os outros, mas não escutamos é a nós mesmos, e não estamos cegos por não ver a tragicomédia que se segue, mas por ajudar a construir o Colisseu day after day e logo depois se maravilhar com o espaço; tão crime, tão arte. Então eu seguro a fita da máquina de escrever, sujando os dedos com a tinta preta e vermelha, maravilhada e começo a calcular, enquanto puxo-a do carretel dessenrolando-a e estragando-a; será possível enforcar uma delas com isso, ou quem sabe todas? Ou quem sabe, já que sou incapaz de delimitá-las agora bem, acabar com todas de uma vez só em um único golpe fatídico?.