quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Já havia passado mais de meia hora do combinado e, agora, seus pés e mãos se impacientavam, mas, o que mais poderia fazer? Descobriu-se tão fraca e abandonada, que, continuar, era a única solução, mesmo não sendo a mais fácil; viver exigia uma coragem sem fim, não estar vivo, e, ela se propunha, uma vez mais, a viver. Tinha aberto as janelas e cortinas, feito seu café, lavado o cabelo, arrumado a cama e agora? Era esperar para a chegada, a grande hora, como um animal frente ao abatedouro, que mesmo sem tomar real ciência do destino que o aguarda, e envolto ao cheiro dos que foram antes dele e ao receio do que virá, pressente a possibilidade de tudo dar certo. Há sempre essa pequena luz que não dá 'pra apagar; a esperança de algo no meio de tudo isso dar certo, correndo ao clichê de escrever certo por linhas tortas, podia, bem acontecer o inesperado, mas que terminasse por satisfazer a situação. Nada é por acaso?Talvez fosse sim; acaso amá-la, acaso estar ali, acaso, acaso, acaso, virar um caso. Virou um caso.
Tinha muita coisa linda ainda para acontecer na sua vida, e muito já tinha acontecido, e como um flash back no meio do promontório, percebeu que só tentava um otimismo infantil. Sabia que aos poucos estava saindo do centro do furacão e indo para suas adjacências, agora já eram mais de uma hora de atraso e nada, nada. Talvez o grande lance, e salvação, fosse a nunca chegada, porque ela não tinha sido exatamente isso? Como um horizonte e toda vez que pensava já ter chego, já ter pego, já ser seu, via que estava muito mais, mais a frente, e era esperar, eternamente, para que ela voltasse como foi, que viveria.
Quem sabe um dia o relógio quebrasse, porque o prego não suportaria para sempre aquele peso, nem ela mesma, nem as mãos, nem as unhas nasceriam para acabar de novo em toda espera, nem os pés ficariam sempre se remexendo em todos os lados e as mãos suadas, frenéticas, não era mesmo?A dor, agora, cessaria. Pensando bem, já não dependia tanto assim dela, da outra, da sua terceira perna.Ou dependia?
Sentia-se muito frágil e cansada, via-se agora como uma criança na noite de Natal, pendendo de sono e esperando pelo Papai Noel que não existe, nem nunca vem; vem primeiro o cansaço e todos conseguem empurrar para a árvore o presente fingindo que foi o bom velhinho. Ela ia esperar até não resistir ao cansaço, e pensando bem já estava tão tarde, 1h30min de atraso, já se passavam das 11 e o melhor a fazer era dormir e esperar acordá-la ao lado como é na noite de Natal.

E a campainha tocava.