quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Era Noite de Folia de Reis, e na fogueira mais próxima saia um calor forte do fogo e estavamos eu e você de mãos dadas, lembra? E você chegou a dizer que aquilo, mesmo lindo, era, sobretudo, poluente, e eu ria e te abraçava, dizendo que agora não era hora de pensar nisso, não era para 'pra pensar em nada. E você me olhava com aqueles olhozinhos e me segurava no meio do seus braços, me prendia e, eu feliz de estar ali ,com todos olhando e comentando a situação. Mas isso acabou, e já é passado, veja bem, e eu não consigo mais sentir seus braços envolventes, nem que nos invejam, agora eu sei que a cinza daquela fogueira é a mesma que sobra da gent,e e não temos mais capacidade, nem vontade de reviver nada, não somos aqueles pássaros mitológicos, ainda que te ame muito e ainda que me ame muito e ainda que eu tenha muita poesia sei que não teremos mais noites como aquela, entende? Mas não é motivo sério de choro, claro, claro, aprendemos muito juntos, mas queria aprender mais, porque tudo nosso é no pretérito, eu tenho, realmente, um passado lindo, mas eu tenho um presente no travesseiro que me impede de dormir, que me impede de comer, que me impede de beber, que me impede de te deixar livre. Eu tava escutando Legião, sim, você não gosta, eu também não, mas sei-lá-eu-deus-porque coloquei para tocar e nos achei numa música, mas eu era a menina que ele cantava e você era ele, mas depois invertia, porque, mesmo sendo mais forte para a vida, sou milhões de vezes mais fraca que você quando te vejo parada me olhando com os bracinhos pendendo do lado, sabe? Talvez seja porque sou muito verdadeira comigo mesma e com o que eu sinto, eu sei que estou triste e não fujo da tristeza, claro que disse que 'tô feliz, mas veja bem, acho que é diferente, é. Diferente, me entende?
