Agora olhando bem aquelas costas à sua frente, na cama, que os cabelos escondiam mais ou menos, viu como toda a cena parecia ser, sobretudo, uma janela abrindo-se aos pouquinhos para à manhã. Havia tentado resistir àquela poesia, os meio sorrisos, palavras inteiras, paixão barulhenta e sonhos pela manhã ao abrir os olhos e ver que havia todo o tempo do mundo, fuga da literatura, fuga do amor; para que? Agora estava feliz, com esse novo conto que o tempo se encarregaria de transformar em poesia, afinal, para ela, todo amor era poesia, ainda que toda poesia não fosse amor. E ao cismar com aquelas costas sentadas na cama perguntava-se sobre todas as coisas, vendo mais o ser do que objeto, e desejando ficar em um permanente mistério sobre o objeto de sua adoração, ainda que não houvesse mistério algum.
E era assim que ela conseguia, agora, deitar-se e dormir, vendo aos poucos aquela costa sumir, aquela bela e desenhada costa e nem se importava se não fosse; agora dormia com a poesia, acordava com a poesia.E era assim que queria que fosse.
