sábado, 12 de dezembro de 2009

Ele & Ela

Agora que a manhã ia entrando pelas frestas da janela ele acordava e via que ela, há muito, já estava desperta e que havia chorado, não soube o que fazer, nem sabia se devia se sentir culpado, naquele exato momento queria era fechar os olhos de novo e fingir que nenhuma crise vinha mais como tantas outras, ou mais nenhum desentendimento, com os olhos vidrados ele lembrou-se que nunca haviam brigado, ou discutido, teria ela sonhado com algo?Podia ser, perguntar o que era poderia ser perigoso, ficar em silêncio ignorar sua dor, mas aquele pânico que sentia e a surpresa o tomava por completo e ela, em seus braços, era uma completa estranha agora, uma completa estranha?Como, vi seu corpo entre os lençóis, não era estranha claro, mas porque chorava?
-O que há?
Era uma dor por toda hipocrisia que possuia dentro de si mesmo, uma traição em relação a vida, em relação a ela mesma, em relação a ele. Não me ama? Antes fosse a dúvida do amor, antes fosse. Mas como ela podia engolir a comida da frente sabendo, tendo ciência, que aquele milho vinha do uso de mão-de-obra explorada?Como podia levantar-se e ir tomar banho se sabia que cada litro d'água que usava era, antes, menos água tratada, era antes um gasto de energia hidroelétrica, era antes de tudo uma floresta inundada? Como podia dirigir até seu serviço se o petróleo agora lançava monóxido na atmosfera?E se o álcool do tanque vinha de uma lavoura com um trabalhador de sol na pele, sem ver os filhos, a mulher, longe de sua terra, preso, trabalhando mais de 16 horas por dia, sem nunca, nunca, nunca poder comprar aquele carro, aquela açúcar do café, aquele banho que ela tomava, aquele milho que comia?Como podia sair para passear com seu cachorro se ela, no almoço, comeria outroa animais, e como lamentar a morte do seu animalzinho quando esse se fosse, se ela patrocinava uma chacina? Não, não quero sossego, solução, ou conforto, queria era se sentir toda cortada pela situação, queria se sentir estribuchada agora, e queria antes de tudo sofrer muito, muito, e muito; aquele amor burguês e tantas meninas perdidas, sem pais e sem mães, sem nada. E ela que tinha tudo, como viver por esse tudo, com esse tudo?