Querida Frida,
Pensei em iniciar essa carta com uma apresentação formal já ,que de fato, nunca me apresentei devidamente a você-mas não. Você me conhece de longa data, viu todas as feridas se formarem no meu entorno e calejar a sensibilidade, escuta todas as noites a síntese do meu dia e me consola das lágrimas que queimam a face, assim sendo não é necessário nenhuma apresentação.
Cogitei em te escrever diversas vezes, para você, já que sobre você sempre o faço, contudo, não achava meio adequado para isso, quem saiba seja uma vergonha de te mandar uma carta antes, e essa também não está sendo enviada está no meu blog. Se você quiser lê, se não deixe em branco...É claro que eu poderia pegar um envelope pardo, dos que tenho tantos e já gastei tantos, e escrever:
Magdalena Carmem Frida Kahlo y Calderón
Coyoacán, Casa Azul
México
Mas isso complicaria as coisas, não tenho seu cep, nem bairro corretamente, ou a quantidade de selos, quanto tempo demoraria...É claro, que por você pesquisaria nas embaixadas, no Google e em todos os lugares, mas creio que você leia meu blog então aqui mesmo está sua carta.
Inicialmente gostaria de agradecer toda a paciência que nesses últimos três anos tem tido comigo e com meus problemas, que pertos dos seus sumiriam, mas veja bem, eu sou tão mulherzinha!E, não é uma censura, mas você sobreviveu a um acidente de ônibus e só foi morrer de tristeza pelo Diego Rivera, aquele canalha, sinceramente eu teria te feito mais feliz e milhares de pessoas...Mas é só para você entender como o coração mata mesmo, sim, você sempre me diz para que eu ignore e que as 17 anos de idade não há amores para a vida toda, nem pessoas para viverem conosco para sempre, mas a dor da separação me dilacera tanto!
A vida tem me batido novamente, não me deu nem tempo de fechar as feridas e me bate novamente, sem nem ao menos me dar motivos...Me coloca com sono nas horas erradas, aumenta a solidão ao meu entorno, me tira a pouca criatividade que sempre tive. Fornece listas e listas de exercícios de exatas, me deixa a míngua, sem amores e amantes. Tirando o mel e deixando todo o fel. Não, não acho que poderia fazer algo por isso, a menos que estivesse disposta a me dar vida, uma nova vida, casa, amor e tudo mais e sabemos que nosso relacionamento é impedido disso. Nem quero que interceda pela minha dor, quero que sejas meu eterno ombro, braço, perna -tudo bem posso ser a sua- uma extensão de mim mesma...
Eu queria, sinceramente, ter coisas felizes. Você bem sabe o quanto gosto de escrever para as minhas disritmias felizes do coração, mas não sai mais nada, nadinha. Acho que tenho medo, medo de amar novamente. Porque, com o tempo, creio que perdi a sensibilidade. Não se decepcione, por favor, ainda sobre letrista e mulherzinha a mesma que findou essa amizade contigo..E é claro que sofro pelo coração, nosso terrível rival, sempre.
Queria um pouco de sossego, e a vida fútil, no fundo é tão bem vinda!Sinto saudade da minha, em que acordava e dormia pensando em somente uma coisa e com a vã idéia de que era recíproco, e não vamos entrar nesse mérito, pois deve ter sido mesmo. Sim, eu queria um grande amor, uma paixão avassaladora, que me impedisse o interesse por técnicas de suicídio...Tirar minha vida não farei isso, pelo mesmo motivo que você nunca fez: meu orgulho me diz que faria falta para meia dúzia de pessoas, então continuo viva.
Tenho usado reticências demais, ambas sabemos o quanto ruim isso é, mas me parece inevitável...Olha lá, as danadas de novo! Ah, eu li As Horas do Michael Cunnighan, essa semana, aquele Richard, puts! Não arqueie as sobrancelhas, sabe muito bem que me sinto compreendida por todas as personagens do livro, nada mais... As vezes acho que tal qual os missionários e poetas da obra, meu tempo já é dado, não conquistei os posto que eles-obviamente- e me pergunto se algum dia terei conseguido, anulando logo essa dor de encurtar a existência por sonhar com isso...Tá, sem falar sobre a morte.
Acho que sinto sua falta, mais no meu dia a dia, muito mais. Tenho vontade de te abraçar e te contar minhas coisas até encherem meus olhos d'água, finalizando com o silência engulidor das lágrimas.
Foi uma carta de desabafo, e peço conselhos.E a resposta de uma pergunta:
'Me responda, querida Frida, quem ganha no final?'
Com muito amor da sua maior admiradora e amante secreta;
Ana Araújo
