terça-feira, 30 de março de 2010

O dia em que Paulicéia Desvairada se apaixonou.


De vestido azul marinho, com ombreiras, que não se usavam mais, e flores estampadas, cabelo preso desgrenhado, transpirando juventude, ia andando já sem graça; pés doiam, a cara meio vermelha pelo Sol à pino e oleoso pela sujeira corriqueira; de dentro, de fora. Com a carteira vazia, deixou todo seu dinheiro no Frans, sem dor, claro, subia a Consolação agora já desolada. Como entender o rosto a menos de um metro do seu? E todo aquele calor que nem milhares de laranjadas tinham solucionado? E seu jeito mulherzinha, jogando o corpo para frente e pensando lances inteligentíssimos para dizer, tentando impressionar? Não, sem explicação. Na Avenida com nome de mulher, claro, sempre traçava seus percursos nelas, com a garganta dolorida de um sem motivo, de um sem saber do que se tratava, de não entender como aquela menina à sua frente de costas nuas e cabelos chumbo, podia mexer com a sua vida daquela forma, fazê-la andar milhas para dizer meia dúzia de palavras que ia embrulhar em papel de festa com cetim, achou a solução em um muro pixado, daquelas noites de vômito sobre a cidade: o amor é importante, porra.
Paulicéia Desvairada também se apaixona.