sábado, 27 de março de 2010
E o herói da história não precisava ser salvo, e eu escutando atentamente a música de fundo do café-bar que dizia isso, te via; postada na minha frente, lado oposto da mesa, com seu vestido azul de margaridas estampadas tentando argumentar por A mais B todos seus milhares de problemas e o quanto lhe custava viver; e eu, engolindo o café quente em grandes goles, imaginava quando deixaria de ser como uma Curda, e pegava poucas palavras que saiam de você. Sim, meu bem, estávamos em outra sintonia; você com seu young and sweet e eu já me sentia tão velha, e as vezes bem nova também, mas agora não é hora de discutir minha madura-infantilidade e eu acho que comecei a chorar por ver que ainda que você quisesse que eu fosse o herói dessa merda de história, eu sabia que não teria a capacidade, nem vontade, nem força de te salvar todas as vezes em que você se perdesse de você mesma, e não conseguiria ir te buscar em algum lugar com meu sorriso de sempre, abrindo os braços e te pondo entre minhas pernas esperando você falar baixo; porto seguro, enfim. Veja bem que isso não quer, realmente, dizer que não te amo, nem quando eu canto segurando o copo bem perto do peito e balbucio ao tom de Chico dizendo que ele é um copo até aqui de mágoa, acho até amor demais em nossas dúzias de esforço mútuo, mas quando você cantarolou que eu não precisava ser salva lembrei-me da minha bolsa cheia de aspirinas, as insôonias noturnas, o par de pernas doloridas, os três conturbados anos de adolescência e eu vi que não dava para te pegar no colo para sempre e colocar para dormir cantarolando, então, antes que já seja tarde demais e a conta fique muita alta por esses milhares de cafés que pedi, evitando o silêncio da justificação, até a próxima, meu bem. Quem sabe na próxima vida.