sexta-feira, 12 de março de 2010

Cicada orni, eu sei.

120 decibéis estourando o peito, deitado na cama; 'pra se tornar algo completamente novo, abandonando a casca antiga, esperando a postura dos ovos e a partida sem o antigo exoesqueleto; proliferar-se e seguir. Uma cigarra, eu sei que sou, cigarra, disse com os olhos cheios de lágrimas e você não entendeu nada, nada! Não era Esopo não, era Kafka; não tínhamos mais idade para acreditar em animais que falam, te disse, e seus olhos me diziam que eu era uma esfinge, mas eu te dizia: sem segredos, e me irritei louca pelo seu clichê, tampei meus tímpanos com a membrana; cigarra. E de ópio à Metarhizium você se tornava e todos os dias na minha árvore, segurando firme, gritando louca, levando todos às janelas para reclamarem desejando me achar, sem nunca conseguir me ver, tão pequena, tão, tentando me salvar, me salvar! Era só isso que eu queria, e você passava as noites e dias aos meus lados, ocupando um espaço imenso em mim, era meu grito, minha casca, minha árvore e um dia fiquei muda, calada, ninguém saia tentando me achar e eliminar, estava no meio do deserto te dizendo para me decifrar, mas eu nunca disse nada disso, me entende? Você que cismava que eu tinha 'algo', lembrando das minhas aulas de redação eu dizia; evite o uso de expressões desinformantes, e ria, depois. Reclamava da minha intensidade, da minha volúpia, e eu, me sentindo leve como pluma, sem esqueleto, não podia entender e você foi embora para longe de mim no dia em que parei de gritar louca, com o peito aberto. Eu era só uma cigarra.
120 decibéis para abandonar, Cicada orni.