Usava um vestido estampado, o cabelo preso deixando visível o rosto jovial e vinha sorrindo pro meu lado, e eu, que achava meu sorriso tão feio, sorria com meus dois olhos, e me via nos dela ampliados por aquelas lentes. Nunca soube se foi ela quem veio, ou eu quem fui, talvez as duas tenham andado ao mesmo tempo, assim, se olhando sempre ao longe e achando tão lindo, tão cheio de poesia tudo, e incapazes, ao mesmo tempo, de dizer o que era aquele tudo.
Me prendia pela cintura e eu me jogava um pouco para frente sentada ao seu lado, encantada, eu dizia, eu pensava. Pegava meus papéis, te fazia tão bem, te desenhava em traço, em rima, em verso. Olhava a noite e pensava; quando desbota? Quando chega a meia noite? E era só sentir o cheiro daquele cabelo cacheado no meu travesseiro, segurando-a com minha mão, sonolenta e dizia; pra sempre, pra sempre, pra sempre. E acordava, desperta, te olhava e sorria, acordar e sorrir, que regalia.
Um dia ia crescer, eu sabia, não usaria mais seu vestido florido. Seria a maior traição dela, talvez, talvez. Mas por enquanto ela segurava minha mão com força, me sorria, dizia que ia sarar, que ia passar e eu ia fazendo minhas fantasias com crepom.
Minha menina, minha menina.
