Não me bem, calma, calma, que esse barulho de trovão é só o anuncio que já passou algo mais difícil, entende? Olha só a água escorrendo na janela, vem meu amor, fica aqui no meu colo, ta vendo como logo passa essa tempestade? Sem medo de nada, te digo desde que a gente saiba se proteger na trovoada, não tem motivo de medo não, e eu te protejo e você me protege e pronto, claro que vez ou outra vai abrir uma goteira aqui em cima da nossa cama e haverá muito esforço da nossa parte até detectar da onde vem essa água incomodando a noite e, claro, e como tampar esse buraco. Mas olha bem lá fora na janela; já sai o arco-íris, e o sol te prometendo alguma coisa linda, algo de lindo. O que? A isso eu não sei isso já não dá para saber, mas encosta sua cabeça aqui, é meu coração é taquicardio mesmo, talvez ele esteja te prometendo tudo, tudo. Perdeu o que meu bem? O passado é isso mesmo, é deixar, levar, e nada do que foi, do que fica, e do que é tem a mesma cara, ta vendo aquela grama do jardim? É a mesma desde que você entrou aqui pelo portão, não é? Mas o tom de verde já é outro, agora ela ta molhada, tem dias de estiagem, tem dias que a gente tem vontade de mudar toda a grama, mas, claro, nasce sempre uma grama de novo, dessa ai mesmo no meio de tudo que a gente tentou de novo, porque tem coisas que nunca realmente acabam.
Claro que isso é otimismo, claro, não, eu nem sou otimista não, é o que posso fazer agora; eu tenho tudo que quis exatamente nesse quarto, quero negar passadopresentefuturo, enquanto não sinto a facada a noite de novo, enquanto eu mesma não vou me agarrar em alguém morrendo de medo da trovoada, mas, agora, minha pequena, eu to me fazendo de forte para você, para merecer te segurar aqui, em mim.
