sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal com Caio Fernando;

Agora já não fazia diferença encarar a garrafa da frente ou o copo do lado, e você sabe disso né? claro que sabe. Eram todas aquelas coisas e como já passava muito tempo na mesma cena você começou a repetir são-assim-mesmo-que-são-as-coisas e a-vida-como-ela-é, mas nem era verdade, entende?Nem é, melhor dizendo, e quando a sua cabeça pender para o lado e você esboçar um suspiro com medo de o fazer forte e me deixar triste, vai saber que não é nada assim, nem nada, mas como já fumamos muito cigarros, a ceia já foi-se toda e as garrafas e copos cheios estão vazios tá tudo com essa conotação. Mas esse reflexo na janela sem neve, porque não temos um natal americano poético com aquela neve, aqueles bonecos e aquelas lareiras, ainda que tenhamos comprado esses sonhos nas bolas da árvore, é só o disco da ângela rorô tocando na vitrola mesmo, e nada mais. não tem uma verdade não, eu não tenho um segredo do bolso para te dar, eu não tenho fórmula mágica para a felicidade, para a satisfação, como quer que um infeliz te dê toda a felicidade do mundo e esses lero-lero?o que você tá achando? a gente tá numa canoa furada e esses fogos estourando na nossa cabeça a noite toda e você se achando infeliz porque não é mais criança e pode sentar em baixo da árvore e papai noel não vem mais, não vem e nunca veio. Se lembra quando descobriu que ele não existia?Me passa um cigarro, por favor?Eu lembro quando descobri, eu não senti nada, sabe? sempre duvidei de tudo que eu acreditava e eu duvidei dele também, eu não sei nem se eu mesmo existo, não senti nada. Que foi, quer falar alguma coisa?

-Feliz Natal.Te amo.