Ela, que nunca teve muitas dúvidas a respeito do que queria, agora com a passagem na mão e o trem na plataforma de embarque, olhava para trás em um ato de total covardia e nostalgia. E Demorava-se no horizonte cada vez mais distante, cada minuto mais distante, sem coragem de seguir, sem coragem de deixar um gigante rastro para voltar sempre que quisesse; porque agora ela entendia um pouco da vida; era sempre, mesmo tendo, já perder pela validade sempre imprensa em todas as situações, era perder a partir do momento de ganhar. Ainda que achasse seu pensamento clichê, ainda que a luta contra o tempo fosse ridícula, ela existia ali e agora. Não sabia se despedir, não havia motivos, mesmo indo para tão longe, estava tudo tão perdo e perdido, claro; os sorrisos de manhã, o mesmo percurso, as carteiras desconfortáveis, as irritações a biblioteca cheia, cada dia mais cheia e a poesia que brotava nos cadernos, nas apostilas e nas páginas. Toda a infância, toda a mulher que havia se tornado; nada de ser piegas. Mas, como, de que forma, ignorar tudo que era, tudo que tinha ganho, roubado, conquistado; tornado-se? E era por isso que precisa dar um tempo para todo esse sentimento sem causa, para lembrar do amor, para tudo; era necessário.
Mas ela continuava, claro, pé sobre pé, subindo na plataforma de embarque, sabendo que carregava na mala um pouco de todos, e muito de tudo e agora, ela não se importava com o peso daquela bolsa à tiracolo, daquela mala de mão, daquelas olheiras; tudo vale a pena. Pelo vidro, admirava-se, da beleza desses anos e ria, de si mesma, por essa despedida desnecessária.
