Eu sou inocente, entende?Você tem que acreditar que eu não tenho, nem tive nada com isso, menos ainda minha mãe, porque se a culpa é dela é porque já foi da minha avó, e dá mãe dela que nem sabia quem era Freud, entende? A culpa não é minha e eu só preciso que você saiba e veja isso; eu não tenho culpa de nada, e não mereço que me ponha esses olhos no rosto agora, nem que engula tantas palavras, eu não mereço, nem tenho culpa, nem você tem culpa, porque eu não quero achar que você tem culpa, nem minha poesia, ninguém tem culpa. Mas eu me sinto mal, muito mal, com as lágrimas sufocando na garganta, com você brava comigo, fazendo de tudo que eu fiz um monte de nada lacrado ao silêncio. E eu sei que todo mundo vai dizer que a culpa é minha, e vai todo mundo apontar para mim, e todo mundo vai me prender como um assassino para se livrarem do meu perigo, do perigo da minha poesia, da minha música, da minha literatura, e só vão me excluir. Mas eu não vou ter um amor a mais por isso, eu não vou ser, finalmente, feliz, nem alegre, nem contente, nem te ter que é o que quero, só vou ser mandada pro exílio, e vão me tirar daqui.Mas o que a gente faz com felicidade mesmo einh? Não eu não sei, eu não sei de nada, mas eu sou inocente, viu? sou muito inocente, sempre fui, desde pequena, inocente, tá?E não sei de quem é a culpa desses olhos pequenos chorosos, dessas mãos aflitas, desse frenesi, dessas cólicas, dessas fobias de mundo, mas eu te digo: sou inocente.Inocente, você acredita?
Eu sei que tá cheio de gente que vai me apontar, que vão dizer que fiz tudo errado, que falhei, mas eu sei que sou mulher, que sou forte e que fiz tudo certo, sabe? tudo certo, não fiz?Eu fiz não fiz, tudo certo?Anh?
