
Fico me acabando na literatura, esbanjando meus excessos. Meus planos reprimidos, e minhas 12 horas de enclausuramento diárias vazando tudo, essa repressão interna, dividida entra a que vai ser académica, a que vai ser boêmia, a que vai ter um grande amor e viver para sempre sozinha. Não existe eu mesma, nem em ninguém, há sempre reprimido, abaixo de tudo que sou e falo e vejo e faço, alguém preso na jaula e essa sou eu, que vasa aqui entre meia dúzia de palavras sem leitores. O excesso silencioso, ainda que em rede. A depressão interna de uma prisioneira de si mesma e das situações. Eu podia ser uma menina normal, com um namorado normal, com uma escola normal, com um futuro normal, e eu sou. Eu podia ser uma menina anormal, com uma namorada anormal, com uma escola anormal, e com um futuro anormal, e eu sou. Não me desfaço em sete faces, me desfaço em linhas retas e tortas, de quem nunca fumou, de quem nunca bebeu, de quem nunca andou pelas ruas desertas a meia-noite sem avisar os pais. Sinto o peso da alma de todas as caixas que já traguei, de todas as mentiras narradas e de todo o sofrimento que injeto desses 18 anos sem futuros.
Eu esbanjo meus excessos em todos os digitos e caracteres que sobram, uma chave para a jaula do meu interior, da alma que me aprisiona a mente. E da mente e dos olhos, e das pernas e da boca que me cercea.
