quinta-feira, 23 de julho de 2009

Fatos,

Aproxima-se a hora, minha criança, não há mais muito que possamos fazer. Lembro da primeira vez que te vi, tão feia e largada aos livros como agora, seus belos dias são apenas fragmentos do que era, aquela felicidade, aquela luz amarela na fotografia do cômodo da vida é que era a peça, a encenação, não essas unhas roídas, o cinzeiro cheio e as folhas em todos os lados. Me diz com um sorriso colado aos lábios esse seu cabelo bagunçado, combina com suas olheiras, a tristeza lhe cai bem não sei se é para melhorar meu ânimo ou porque acredita nisso. Te fiz uma promessa à rum, quando a garrafa já estava a metade e bebíamos em copos de plástico sem gelo, sem classe, sem glamuor dos nossos dias em que acreditamos que a contra-cultura era a solução do âmago da vida. A garrafa acabou, deitei em seus braços inquieta sobre ameaça de ser castigada. Não consegui ficar presa entre eles. Te fiz um poema, um soneto, uma carta, uma crônica para nunca chegar ao livro.
Sua dor renderia uma coleção inteira brincamos com algo que nos custa tão caro, e ao raiar do dia lhe digo perde-se a sanidade, mas não a poesia me acha poética, me beija os olhos e meu rastro vai sumindo para perder-se no resto da minha vida.
Diz-me que não há motivo de sofrer quando estamos a ponto de romper com o mundo, fazemos trocadilhos, dizemos que estamos inaptas ao mundo e sentamos com sorvete à frente nos entupindo até o começo do dia nos sentindo mais ainda inaptas ao mundo.
Nem somos.
Somos adolescente, e só. Você odeia quando digo isso, mas é a verdade, não é?Só temos míseros 17 anos(vai lá, você tem 18...). Isso é um simplismo para dizer que há um vazio no seu peito e que realmente há uma gota de sangue em cada poema.
Pode até ser, sei lá.