domingo, 24 de maio de 2009

Dignidade


Eu tinha tudo, toda a dignidade do Mundo nas mãos, e nas pernas, nos braços e na boca. Minha mente era clara, nunca tomei atitudes impensadas, nunca fiz rotas de fuga.
Um dia te vi, justo no único dia que não atravessei na faixa de pedestres, e seus olhos seguiram os meus que te seguiram bem mais do que os seus.
Devia ter entendido esse presságio.
Nos puxamos, nos prendemos. Você foi sem olhar para trás no final. Virou foto de álbum, dor no peito, cicatriz.
Levou meu coração, meus olhos, minhas mãos, meus pés, minha dignidade.
Toda minha dignidade.
Fiquei com as lágrimas, com as disritmias e receios. Não me olho mais no espelho, suspeito do amor, e nunca, nunca mais atravesso fora das faixas, e espero o telefone tocar, apagar tudo isso que remôo e dizer: 'Oi, amor.'