Agora, apoiada entre um livro de química classificando as cadeias orgânicas e um livro de literatura, deixou esboçar um sorriso na face. Lembrou-se do dia em que se achou, na hora em que estava mais perdida no epicentro das suas próprias confusões, medos e fantasias, as suas crises dos 17 anos.
Rememorou o dia que ficou em dúvida pelas duas calçadas, e o receio de rimar o “amor” com “dor”, ou qualquer coisa que se relacionassem a uma poesia dos seus 12 anos de idade. Agora que tinha perdido tantas coisas consideradas eternas podia perceber que ainda tinha tudo, exatamente tudo, que sempre teve, inclusive os mesmos erros bobos de acentuação, o uso excessivo do “que”... E, claro, aquele amor turbulento e inesplicado. A fagulha da felicidade lhe acendia no peito por perceber a posse de tudo; seus sentimentos haviam evoluído sem perder nenhuma ponta do amor, a escrita tomava mais forma, estruturava-se, em partes, sozinha, cada uma na sua calçada acabou gerando um trânsito mais simples, sem hora do ‘rush’, e, fora isso via que pronomes possessivos eram verdadeiros.
Vezes ou outra a crise dos 17 anos ainda perturbava-a, em especial quando esquecia tudo que possuía e conquistara, contudo nesse momento incessante de lucidez, via, com clareza, a quantidade de coisas boas que tinha, e orgulhou-se de não ter tirado a própria vida nas crises passadas; agora ela era uma menina de 17 anos, escritora, jornalista, musicista... Ou quase tudo isso.Não era momento de pensar se realmente era tudo isso, somente sentir-se, aquele estado de espírito esquecido, e lembrar que o presente encerrava em um abraço as 17:35 de uma sexta-feira.
