sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

E enquanto você saia daquele ônibus com sua bolsa de sempre eu sabia que você ficava era me procurando para ver como eu estava e eu só pensava em te dizer não me deu dessa vez, e naquela pilastra de sempre, sem fumar dessa vez pelo simples receio do receio, eu te vi ali, correndo desesperada, não de saudade, não de amor, mas de medo, correndo para mim em um medo maior que sua vontade, seu amor, seu desejo e você me segurava e me abraçava dizendo que passa, que passava, que não era falha, que não era nada e eu ia olhando seus olhos desesperados e sabia que ninguém estava entendendo aquilo, e eu dizendo não faz mal, não me faz mais mal e você achava graça na poesia e ia me pegando aos pouquinhos daquela pilastra e brincava dizendo que aquela pilastra me tinha muito, que era meu apoio e eu ia aos poucos passando para os seus braços, suas pernas, sua boca, sempre olhando no seus olhos esperando de você a solução, o pause, o você me dizendo era brincadeira, a vida é brincadeira, show, palco, teatro mas não era, você me dizia a realidade e eu ia indo na sua mão.
Achei que nunca mais te veria descendo aquelas mesmas escadas para passar uma noite sequer do meu lado, branca, tranquila, sem me cobrar nada do que eu nunca pude fazer, do que eu não quis fazer, mas você vinha agora, com seu vestido de flores amarelinhas e me segurava, e eu, com a cabeça no seu peito, escutava seu coração partido havia eu o partido na partida? mas você não ia nunca mais falar disso, achava que eu já tinha pago por estar assim, desnorteada.
Então eu paguei?