15 de Fevereiro de 2010;
Estou partindo, fiz minhas malas enquanto você saiu, é uma decisão irrevogável, e a mais certa a fazer. Há um pouco mais de um ano tenho certeza que morreríamos em uma separação feita dessa forma; brusca, hoje não mais. Peso muito nas suas costas, te tiras meu sono, se irrita, sofro tanto e por saber que alguém tem de apertar o gatilho, decidi fazer eu mesma. Eu aperto o gatilho, assassina.
Deixei na estante todas as suas coisas, as que me deu e que eu sei que agora sente vontade de pedir de volta, e só não o faz pelo simples receio de me machucar, pois, continuamos cheias de escrupulos e cuidados, mas, veja bem, não é o que basta mais. Passei café, comprei pão, suas roupas estão reorganizadas no armário, no espaço que havia para as minhas. Deixei seus livros, seus discos, e agora já está na hora de ir tomar minha música em outro lugar.
Lateja louca essa ferida aberta, esse tiro que eu mesma dou, não em um ato heróico, entenda bem, nem em nenhuma vitória mulherzinha, mas na tentativa de tornar você em um relicário de tudo que eu já fui e tudo que já tive de bom. E, isso, você não pode me negar.
Eu que já estive viva por você, estou te dizendo adeus; da minha literatura, do meu melodrama, da minha cobrança, da minha disritmia, da minha poesia.
Não há leveza, ainda que não tenha seu peso desconfortável em mim, e espero dar a que você e sua alma precisam. Pois, veja bem, eu não sei viver de leveza e logo amarro outra bola de ferro no calcanhar.
Você foi o grande amor da minha vida.
