Com as duas mãos tampando as orelhas e as pernas agitadas na sala bem iluminada a menina escutava o barulho mais ensurdecedor que já havia escutado em todos os anos de sua vida, ainda que fossem bem pouco tempo. Porque era naquele silêncio, naquela ausência completa de qualquer coisa que seus tímpanos eram furados de tanto barulho, e a nausea lhe chegava à boca e quase chorava pela tortura. Era a afirmativa da sua existência, da sua completa existência, e por desejar tanto viver em uma completa negação do ser era somente no barulho da multidão, quando ela, como pessoa, não fazia barulho algum, se sentia não-existente. No silêncio todo seu barulho, qualquer movimento; ela existia. Estava marcando sua existência, somente isso lhe doia: saber, agora, que existia.
E até mesmo seu desespero fazia barulho e ela via; existo.
