terça-feira, 17 de novembro de 2009

Terceira Margem

Ela era mulher cumpridora, ordeira, positiva; e sido assim desde mocinha e menina, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação.Um dia ela comprou uma passagem para um região no meio do país, em um lugar bem isolado, deixou o celular, as chaves de casa, deletou qualquer meio de contato e foi-se embora, sem dizer nem para os pais,nem para seu 'gran amor, nem para ninguém. E com uma pequena bagagem de mão, ela foi caminhando por um lugar que não conhecia, e não sabia se o dono da padaria era Seu Zé, se a mulher do armazem sabia que só comia queijo, nada de carne; vegetariana, fia? E não tinha mais ninguém que a esperasse, que ligasse, que mandasse carta, mensagem, telegrama.E sorriu docemente por saber disso, serena, calma. E consegiu rir, quase sadistamente, de terem desconfiado que nunca faria isso, mas fez, não era só projeto não.
Agora ela ajeitava suas coisinhas na saleta, não era um lugar grande, ela não tinha muita coisa, nunca teve, e por isso tinha ido embora, porque, em vida, só teve despedidas. A única coisa que guardava era sua boneca Frida, seu amor perpétuo.
Reza a lenda que da ultima vez que a viram segurava a bonequinha e chorava docemente, com a cabeça para frente e as pernas paralelas juntas;
era sempre tão irrevesível, aquela terceira margem não opcional.