O ônibus passa todas as manhãs novamente no mesmo lugar de sempre, com aquele arranha céu à direita e a frente surge um desses monstros novos, isso poderia ser clichê se a cidade não fosse tão pequena e caipira. Fazendo disso novidade, afinal, aqui por incrível que pareça se morar em casas com jardins não é lá grande coisa.
Eu te vejo todos os dias, alguns dias mais longe, outros mais perto. As vezes você fala comigo e fica do meu lado, e tem dias que só me acena.
Dentro da mochila, agora mais pesada que o que sempre foi, normalmente tenho a frida e o maurice para entrar no ônibus abraçá-los como uma criança também o faz e evitar que chore por um passado que já picamos, colocamos fogo, mas que jamais esquecemos. Ou então decido estudar, revisar algo muito já revisado só para, se você estiver olhando para mim, achar que não sinto sua falta.
Quando você está atravessando a rua sei bem, mesmo que não te olhe e faça você 'assobiar', ou ir mais perto falar comigo, só para ver se você o faria mesmo, porque enquanto você não chega não desgrudo os olhos da esquina, que me tira o campo de visão do resto da rua, e sei que você está vindo. eu sei, mas finjo que não.
Eu prometi que não escreveria mais, mas pensando bem gosto de escrevê-lo, pois ainda me restam tantas coisas nunca ditas, tantas coisas nunca feitas, tantos momentos que nunca eternizei nas paredes do meu quarto...
A escola continua no mesmo lugar de sempre, e todos os dias a visito, tem as mesmas pessoas, as mesmas salas, a mesma biblioteca e ainda me faz perder o ar subindo suas escadas. Quando toca o sinal todo meu corpo volta a ter vida somente para segurar suas mãos, te dar um beijinho, e ficar vendo as pintinhas em formato de coração que vezes ou outra estão mais para borrões e algumas vezes invisíveis.
E eu vou anotar na minha agenda que tenho de ler o jornal, fazer os exercícios de exatas, levar comida e água para a sala, abarrotar a mochila, carregar o mp4 para escutar o tango argentino pela manhã.
Descer as escadas que me tiram o fôlego segurando suas mãos, dar um beijinho de despedida e falar que conversamos no msn.
Vou chegar em casa estudar e contar os minutinhos para que eu possa entrar na net mesmo que eu quem tenha estabelecido o horário, para falar com você, que as vezes não fala comigo.
A cama continua no mesmo lugar, esporadicamente com lençóis e fronha diferentes, e o travesseiro ali com seu cheiro que borrifo todo os dias antes de dormir para imaginar que você está ali comigo.Vou ter insônia, pensar em toda essa rotina a noite toda, controlar o choro, abraçar a frida e dormir com a mulher da minha vida. lembrar da aula de literatura, ou de que vou para a unicamp estudar estudos literários e dormir sorrindo, sonhando.
Vou ter algum pesadelo com tudo isso, todas essas bobeiras. Alguma coisa bem Tim burton ou Tarantino.
E o chuveiro vai estar no mesmo lugar de sempre para me trazer a realidade pela manhã, daquelas coisas formidáveis que poderiam ser se tivessem sido a muito tempo atrás.
